11/08/2012

Traços exóticos da 'partícula de Deus' surpreendem físicos


Estudo com participação de brasileiro indica que bóson de Higgs pode não se encaixar em teoria mais aceita hoje. Análise preliminar dá pistas de partículas ainda desconhecidas; outros cientistas pedem cautela com os dados.
A partícula de Deus está, ao que parece, do jeito que o diabo gosta: malcomportada. É o que indica uma análise preliminar de dados coletados no LHC, maior acelerador de partículas do mundo.

O trabalho, feito por Oscar Éboli, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), sugere que o chamado bóson de Higgs, que seria responsável por dar massa a tudo o que existe, não está se portando como deveria, a julgar pela teoria que previu sua existência, o Modelo Padrão. Se confirmado, o comportamento anômalo da partícula seria a deixa para uma nova era da física.

A descoberta do possível bóson, anunciada com estardalhaço no mês passado, foi comemorada como a finalização de uma etapa gloriosa no estudo das partículas fundamentais da matéria. Sua existência, em resumo, explicaria porque o Sol pode produzir sua energia e criaturas como nós podem existir.

Para analisar o bóson de Higgs, é preciso primeiro produzir uma colisão entre prótons em altíssima velocidade - função primordial do LHC. Então, do impacto de alta energia, surgem montes de novas partículas, dentre as quais o Higgs, que rapidamente decai, como se diz.

É que, por ser muito instável, o bóson se "decompõe" quando a energia da colisão diminui. Aparecem, no lugar dele, outras partículas. É esse subproduto que pode ser detectado e indicar a existência do bóson de Higgs. Contudo, isso exige a realização de muitos impactos, até que as estatísticas comecem a sugerir a presença do procurado bóson.

Surpresa bem-vinda - A novidade anima os cientistas. "Para a maioria dos físicos, o Modelo Padrão é uma boa representação da natureza, mas não é a teoria final", afirma Éboli. "Se de fato for confirmado que o Higgs está decaindo mais que o esperado em dois fótons, isso pode significar que novas partículas podem estar dentro do alcance de descoberta do LHC."

Poderia ser o primeiro vislumbre de um novo "zoológico" de tijolos elementares da matéria. Previa-se que essas partículas exóticas começassem a aparecer com as energias elevadas do LHC.

Tudo muito interessante, mas nada resolvido. "É um trabalho muito sério, mas eu acho que ainda é muito cedo para se tirar qualquer conclusão se se trata ou não do Higgs padrão", afirma Sérgio Novaes, pesquisador da Unesp que participa de um dos experimentos que detectaram o bóson de Higgs. "Até o final do ano as coisas estarão um pouco mais claras", avalia ele.

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