03/02/2012

Nota 10 para o Tom



Professora da UFMG lança livro que pinça a física do dia a dia. Dia a dia mesmo! De letras de música a atividades na cozinha – tudo vira motivo para se ensinar a matéria.
Por: Thiago Camelo
Publicado em 22/12/2011 | Atualizado em 22/12/2011


Quando Roberto Carlos canta "fui abrindo a porta devagar, mas deixei a luz entrar primeiro" (em O portão), é possível que o Rei pensasse em tudo, menos em física. Porém, é exatamente ela que salta à frente de Regina Pinto de Carvalho; e não é apenas quando ouve canções. A física aparece em todo lugar para o qual a professora aposentada pela Universidade Federal de Minas Gerais olha.
o à toa, o livro da cientista chama-se Física do dia a dia. Na canção de Roberto Carlos, ela explica:
Segundo a teoria da relatividade restrita, proposta por Einstein em 1905, quanto maior a velocidade de um objeto, mais difícil se torna aumentar essa velocidade. A velocidade da luz no vácuo (que tem valor muito próximo à velocidade da luz no ar) seria o limite além do qual não se pode aumentar a velocidade do objeto. [...] Nesse caso, quando a porta fosse aberta, a luz entraria primeiro, quer nosso Rei quisesse ou não deixá-la passar à sua frente.
O livro é o segundo volume de um projeto bem-sucedido de quase dez anos. O primeiro vendeu 6 mil cópias e foi reeditado recentemente.
“A cozinha é o melhor laboratório para se entender a ciência”
O sucesso impulsionou a física mineira à nova empreitada. Com 104 perguntas ventiladas por ela própria e por leitores curiosos, o segundo volume aborda questões do cotidiano que vão para além da música. Um capítulo, por exemplo, é dedicado à cozinha: “o melhor laboratório para se entender todo o tipo de ciência”, diz Carvalho, em conversa por telefone com a CH On-line.
“Mas a verdade é que caminho na rua e vejo física em tudo, tenho até dificuldade em escolher sobre o que vou falar. Tenho questões demais”.
“Por exemplo”, continua a professora, retornando ao laboratório-cozinha: “É melhor descongelar um alimento colocando-o num recipiente de metal ou de vidro?”
“Não sei”, responde o repórter.
“No de metal, pois é um bom condutor de calor”, ensina a física. “São questões com que nos deparamos todos os dias, a física está nas pequenas ações.”
De fato, a ‘pegadinha’ do compartimento de metal está no livro, assim como perguntas das mais insuspeitas:
"Por que bailarinos e patinadores executam piruetas com os braços fechados?"
"Como é produzido o barulho do giz no quadro-negro?"
“No primeiro livro, contei bastante com a ajuda dos meus alunos de licenciatura, então nem me considero autora de fato dessa obra; neste segundo, compilei e respondi todas as perguntas”, conta Carvalho.
Apesar de achar que o livro “contempla perguntas que criança faz e avô gosta de responder” – ou seja, é voltado para um público-alvo variado –, a carreira de Carvalho é bastante direcionada à formação de novos educadores. E o livroo foge desse viés: ela cita casos de professores que aplicam questões em prova cuja pergunta (e resposta) foi tirada claramente de seu livro, embora não tenha ganhado o crédito.
Além de fazer livros com verve educacional, a física roda o país mostrando como é simples fazer experimentos em sala de aula. Às vezes, usa brinquedos criados pelos próprios alunos, como os aviões de papel.
“Esse tipo de atividade mostra a utilidade da matéria e tem a ver com o livro, com a física no dia a dia”, aponta a professora, que ama música e escolhe canções das mais variadas para ilustrar seus exemplos. Pode ser CPM22, Nelson Cavaquinho ou Tom Jobim.
Este último, aliás, passou na prova quando cantou, no Samba do avião, que a pista estava “chegando e vamos nós aterrar”. Afinal, para quem está dentro do avião, diz a matéria, quem se mexe é a pista. Nota 10 para o Tom, que sabia muito, até a física do dia a dia.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line 

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