01/12/2013

Pais não devem escolher escola só com base no Enem, diz pesquisador

A posição de uma escola no ranking do Enem não deve ser o principal fator considerado pelos pais ao decidir onde matricular os filhos.
A opinião é de José Francisco Soares, professor de educação da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para ele, há muitas escolas que tentam se apropriar da importância preponderante da família para o desempenho dos alunos.
De acordo com Soares, "os fatores que estão fora da escola respondem por mais de 70% do desempenho" dos estudantes.
 
Folha - O Enem deve ser usado para comparar escolas?
José Francisco Soares - Eu acho que os resultados da Prova Brasil, do Enem são importantes porque mostram que há alunos que aprenderam e outros que não aprenderam. Esse retrato é muito importante. Entretanto, o que não é correto é você atribuir apenas à escola o bom desempenho do aluno. Não é correto a escola não reconhecer a importância da família.
Folha - Suas pesquisas mostram que as características pessoais e da família respondem por fatia grande do desempenho dos alunos, certo?
J F S - Exato. O que a criança leva de casa é muito mais determinante do que o que a escola consegue acrescentar. Quem não tem uma boa escola pode não avançar. Mas as escolas não podem riscar a contribuição das famílias. Os números e os resultados variam, mas se você pega o aluno sem fazer nenhuma consideração, os fatores que estão fora da escola respondem por mais de 70% de seu desempenho.
Folha - Se uma criança de família com alta escolaridade for para uma escola ruim, terá o mesmo resultado do que se tivesse ido para uma escola boa?
J F S - Não, porque também importa com quem essa criança vai conviver. Se ela fosse para uma escola pública de baixa qualidade, não perderia seu capital cultural, mas, como iria conviver com pessoas que levam menos, seus resultados seriam puxados para baixo. Ou seja, a contribuição do grupo de alunos para o desempenho de um deles também é relevante.
Parte do sucesso das escolas que ficam muito bem nos rankings não é o sucesso pedagógico. É o sucesso na atração do aluno com grande potencial de aprendizagem.
Folha - E qual fator pesa mais?
J F S - Essas escolas são melhores no marketing do que pedagogicamente. Isso não quer dizer que não sejam boas pedagogicamente. Elas têm tudo muito bem estruturado, coordenador pedagógico que sabe o que está falando, professores muito qualificados. Isso tudo é correto, mas não elimina a enorme vantagem que ela tem por ser bem-sucedida na seleção dos alunos.
A crítica ao ranking é que ele elimina algo que está na escola, mas veio da família e de que a escola se apropriou indevidamente.
Folha - O que a família deve buscar dentro de suas possibilidades? Como deve escolher a escola dos filhos?
J F S - A primeira coisa é que ela perceba que tem muitas opções. A posição das escolas nos rankings é importante, mas não é o elemento que deve predominar. Em primeiro lugar, porque a diferença de desempenho entre as boas escolas é muito pequena.
Além disso, a condição em que algumas dessas escolas se encontram é fruto de políticas detestáveis, que não são educacionais. A política de você atrair só o bom aluno é detestável socialmente.
A outra coisa que precisa ser considerada é que, obviamente, há muitos alunos acima assim como muitos alunos abaixo da média da escola. Acho que é importante que a família procure saber que notas tiraram os alunos da escola que têm os piores resultados.
Folha - Com essa informação, você consegue se perguntar: e se meu filho for pior nessa escola?
J F S - As escolas que vão bem nos rankings colocam um foco muito grande no desempenho dos alunos?

Sim, essas escolas só veem o desempenho do aluno. Seria importante que olhassem outras competências. E os pais precisam saber o que querem para a educação dos filhos. Se a família quer que o filho tenha um sentimento de empreendedorismo, uma escola com foco muito grande em desempenho pode ser ruim para essa dimensão.
(Jornal da Ciência 4865, de 29 de novembro de 2013

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