Publicado em 10/02/2012 na CH online - com permissão
Com vasta cabeleira loira, roupas justas e
maquiagem, Deborah Berebichez não é exatamente o estereótipo da cientista. PhD
em física e analista de Wall Street, se dedica a inspirar meninas que gostam de
ciência. (foto: arquivo pessoal)
“Minha filha, se você estudar ciência, não vai
conseguir casar. Os rapazes não querem uma moça mais esperta que eles.” Foi o
que disse a mãe de Deborah Berebichez, uma jovem da Cidade do México, quando a
filha comentou seu interesse por ciência. “Mas por que você não escolhe uma
profissão mais feminina?”, questionaram os professores da escola.
Hoje em dia, Debbie, que é PhD em física e apresenta um
programa de ciência no National Geographic Channel, se dedica a inspirar
meninas que, como ela, gostam de ciência, mas muitas vezes não têm o apoio
necessário para se dedicar a essa carreira. “O que eu quero é encorajar as
mulheres a pensar criticamente sobre o mundo, a fazer perguntas”, explica.
“Onde cresci, eu era tratada como uma anomalia por me interessar por matemática
e gostar de analisar as coisas.”
“Onde cresci, eu era tratada como uma anomalia
por me interessar por matemática e gostar de analisar as coisas”
Debbie saiu do México para os Estados Unidos com
uma bolsa para estudar filosofia, mas acabou conseguindo o que queria, se
formar em física. Com ajuda de um tutor, ela estudou, em dois meses de férias,
toda a matéria dos dois primeiros anos da graduação de física e conseguiu se
formar nos dois cursos dentro do período de duração da sua bolsa.
“Me apaixonei pela física. Andava pelo campus à noite
resolvendo problemas matemáticos na minha cabeça. Tudo à minha volta passou a
ter um significado diferente, agora que eu sabia a razão por que as coisas
aconteciam. Eu estudava ondas, ou mecânica, e toda vez que via crianças
brincando num parque, ou escovava os dentes, ficava pensando na ação das
moléculas, ou na força da gravidade.”
Depois disso, foi para a Universidade de
Stanford, na Califórnia, onde obteve um PhD na área de reversão temporal,
desenvolvendo uma técnica para localizar sinais de rede sem fio em pontos
específicos de um prédio. Hoje, continua fazendo pesquisa. “Ainda trabalho com
ondas, mas com a propagação de ondas em meios homogêneos. Estamos tentando
descobrir maneiras de aprisionar luz, prendendo um laser em um cristal, por exemplo.”
Mensagem às meninas e à sociedade
Debbie é uma das apresentadoras do programa Humanly Impossible (humanamente impossível, em tradução
livre para o português), do National Geographic Channel, em que explica a
física por trás de façanhas espetaculares, como no caso do homem que foge de
uma camisa de força debaixo d´água, entre outros.
Ela também trabalha em Wall Street, na área de análise de
risco, aplicando em finanças os conhecimentos de matemática adquiridos
estudando física. “É a maneira mais fácil de se conseguir um green card para ficar nos Estados Unidos; existem
cerca de 2 mil físicos aqui”, se justifica.
“Em certas comunidades, as meninas nunca viram
um cientista, muito menos uma mulher cientista”
O resto do tempo – “Resto?” eu pergunto. “Eu
trabalho sem parar, nunca tenho férias”, é a resposta – ela passa viajando pelo
mundo, dando palestras e conversando com estudantes. Recentemente, se
apresentou no programa de palestras TED,
nos EUA; no Instituto de Tecnologia Indiano de Kanpur, na Índia; e também foi a
escolas nas Ilhas Virgens dos Estados Unidos, no Caribe.
“Em certas comunidades, as meninas nunca viram um cientista,
muito menos uma mulher cientista”, observa. “Às vezes, no começo da palestra,
elas estão rindo, mas, aos poucos, vão se interessando, e, no final, algumas
vêm falar comigo, fascinadas.”
Com uma vasta cabeleira loira, roupas justas e maquiagem,
ela não é exatamente o estereótipo da cientista. Usando o apelido de
Sciencebabe, Deborah produziu uma série de vídeos sobre a ciência do dia a dia,
sendo que o mais famoso deles explica a ciência por trás do salto alto – uma de
suas peças ‘básicas’.
Barbara Axt
Especial para a CH On-line/ Londres
Especial para a CH On-line/ Londres
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