Publicado por Cientistas descobriram
que
Por Paula Borges Monteiro
Grupo de Estudos em Tópicos de Física – IFSC
Atenção! Podemos ter um bom argumento para gastar o
tempo livre com jogos de computadores: contribuir para o progresso da ciência! Em
abril de 2016, o reconhecido periódico inglês Nature publicou o trabalho
Exploring the quantum speed
limit with computer games, sobre a investigação de um limite para
velocidades em sistemas quânticos a partir de jogos de computadores. Mais do que
descrever essa novidade científica numa linguagem mais acessível, aqui pretendo
apresentar os termos “ciência cidadã” e “gamificação”, que inspiram diferentes áreas
de pesquisa em todo o mundo.
Ciência cidadã é a aquisição de conhecimento a partir
de um método científico onde
os pesquisadores podem ser quaisquer pessoas que tenham disponibilidade de tempo
e algum recurso tecnológico (computador ou celular, por exemplo). Nenhum conhecimento
prévio é necessário, apenas a disposição voluntária. Essa prática teve início há
mais de um século. Um dos primeiros trabalhos a ser realizado dessa maneira foi
o levantamento de espécies de pássaros de uma determinada região. Qualquer pessoa
pode observar e contar tipos de pássaros e o conjunto de dados obtidos de várias regiões forma um rico banco de consulta
para pesquisas científicas.
Por sua vez, gamificação é transformar um determinado
evento em um jogo com estratégias e resultados relacionados a determinados objetivos.
A gamificação também já é utilizada há muito tempo. Um exemplo são as gincanas científicas
comuns em escolas, para incentivar os estudantes a se apropriarem de determinado
conteúdo.
A união entre a ciência cidadã e a gamificação tem como
produto jogos abertos para computadores. O jogo é pensado de tal forma que a estratégia
utilizada por um cidadão comum pode apresentar, ao pesquisador que o criou, uma
nova forma de raciocinar sobre o problema. Um belo exemplo é o jogo EyeWire, que foi criado em um laboratório do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT), para mapear os neurônios da retina.
Voltando ao trabalho que inspira esse texto, 11 pesquisadores
dinamarqueses e “jogadores”, indicados como autores, apresentaram o Quantum Moves,
um jogo online baseado em problemas de física quântica. O jogo, que pode ser encontrado
em www.scienceathome.org, pode
ser utilizado por qualquer pessoa, com pouca ou nenhuma formação sobre o assunto.
O problema em questão está relacionado com a rapidez de operação de processos quânticos.
Em especial, quando falamos em computadores quânticos, além da capacidade de resolução
de problemas não solucionados por computadores clássicos, esperamos que os processos
tenham maior velocidade. Há desafios a serem ultrapassados na determinação dos limites
impostos pela natureza para a velocidade a ser alcançada em um processo físico e
os pesquisadores desenvolveram um jogo para ajudá-los nessa tarefa. Deslocando uma
partícula de uma posição à outra, com movimentos simples, é possível determinar
caminhos que otimizam os processos quânticos.
O Quantum Moves é apenas
o primeiro jogo utilizado na solução de problemas em física quântica, mas abre várias
possibilidades em um campo ainda pouco explorado. Convide os seus colegas para conhecer
essa nova oportunidade!