A Física
Imagine um quarto na qual estão espalhadas as 5000 peças de
um quebra-cabeças. Algumas peças foram agrupadas e mostram a imagem de um
rosto, por exemplo. Outro grupo de peças deixa prever
a imagem de uma árvore.
Mas falta muito para que o quebra-cabeça forme uma figura única.
Isso é a Física!
Existem três físicas distintas: a física estudada no
colégio, a física voltada para a pesquisa e a física a serviço da tecnologia.
A física do colégio não deve pretender tornar ninguém expert
nessa matéria. Ela deve sim mostrar como o Universo funciona – pelo menos sobre
o que já descobrimos. Deve ensinar como as coisas funcionam e responder às
perguntas que incomodam os alunos a respeito da matéria e da energia.
Pretender que todos os alunos aprendam física a ponto de
resolverem problemas sem associação nenhuma com o cotidiano deles, tipo “um
projétil atravessa um bloco de madeira em um caminhão em movime
nto e blá, blá,
blá”, não faz sentido nenhum para alguém cujo talento é a música ou a
literatura. Mas saber que calor é diferente de temperatura ou que os tipos de
movimento dependem de um referencial ou ainda que a luz se propaga em linha
reta em meios homogêneos, isso enriquece, cria novas perspectivas em quem
aprende.
O problema da física começa no quinto ano do ensino fundamental,
quando as crianças deveriam estar completando sua alfabetização científica. Acontece
que a maioria esmagadora de professoras que trabalha com essa série, não teve formação
suficiente e consistente para encantarem seus alunos para a física das coisas e
as coisas da física. Não raro, elas repetem o que está no livro didático
deixando os alunos mais curiosos sem respostas para seus questionamentos.
Depois vem o nono ano. O professor ou professora com
habilitação para trabalhar com essas turmas é formado(a) em Ciências Biológicas
e teve apenas um semestre de Física e dois de Química. São eles os responsáveis
por mostrar de fato as duas Ciências para os agora adolescentes.
Geralmente o que acontece é que eles gastam muito tempo
resolvendo os problemas matemáticos propostos nos livros didáticos e raramente
a física ou a química experimental – que causaria algum impacto na aprendizagem
deles – fica de fora.
E aí chega o ensino médio. Pelo menos cinquenta por cento
dos professores que lecionam física são formados em Matemática. Estão ali por
falta de profissionais na área. Sabe por que? Quando um aluno começa a
sobressair-se na Licenciatura, são os próprios professores que recomendam que
ele migre para o bacharelado. Um curso de licenciatura que começa com quarenta
alunos, formará no máximo dez. Dessa dezena, metade vai direto para o mestrado
e quando terminam deixam o ensino médio e vão para o ensino superior.
Isso quando o professor de física não é formado em
engenharia. Esses são ainda piores, pois acham que os alunos têm que dominar a
Matemática de tal modo que sejam capazes de resolver qualquer tipo de problema.
Afinal, eles conseguiram, por que seus alunos não conseguiriam?
Eu não sou um pesquisar da Física Teórica. Sou professor de
Física e pretendo mostrar a meus alunos como essa matéria é bonita e
interessante. Gosto muito quando os vejo usarem aquilo sobre o qual conversamos
em seus cursos de engenharia ou outra carreira afim.
O maior orgulho de um professor é ser superado por seus
alunos.